A jornada da 9ª. edição do Fliaraxá – Festival Literário de Araxá, terminou nesta terça-feira, dia 8 de dezembro, com o anúncio dos vencedores do tradicional Prêmio de Redação Maria Amália Dumont. A CBMM apresenta o Festival desde a sua primeira edição, com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério do Turismo, com o apoio cultural do Itaú.
A estudante Ariana Emanuelly Martins dos Santos da Silva, vencedora em 2019 na categoria 9 a 11 anos, fez a entrega do prêmio aos contemplados nesta edição: Felipe Santos Salazar Faria, do Colégio São Domingos (9 a 11 anos), Cecília de Oliveira Borges, do Colégio Dom Bosco (12 a 14 anos) e Lourenço Nogueira Silva, do Colégio Atena (15 a 18 anos). Os alunos foram acompanhados pelas professoras Rosania Rosa, Joana Dac Vaz e Maria Nair, respectivamente. Os ganhadores receberão mil reais cada, que será depositado em uma caderneta de poupança, aberta em nome dos alunos.
O tema escolhido para a concepção da redação foi “As Línguas Portuguesas Pelo Mundo”, em consonância com o tema geral do Festival “Não há uma língua portuguesa, há Línguas em Português” (José Saramago). O concurso foi aberto para alunos da rede particular e pública de ensino de Araxá e contou com adesão de 17 escolas, sendo 14 públicas (municipais, estaduais e federais) e 3 particulares.
O Prêmio de Redação Maria Amália Dumont tem o objetivo de revelar novos talentos literários e incentivar o hábito da leitura e da escrita. O IX Festival Literário de Araxá aconteceu entre os dias 28 de outubro e 01 de novembro de 2020.
A cerimônia de entrega aconteceu na Biblioteca Municipal Viriato Corrêa foi restrita, seguindo todos os protocolos de segurança da pandemia, e contou com a presença da historiadora Keyla Machado, representando Régia Côrtes (presidente da Fundação Cultural Calmon Barreto), Maria Clara Fonseca, coordenadora da Biblioteca Municipal Viriato Corrêa, Rafael Nolli, curador local do Fliaraxá, e os pais e professores dos estudantes premiados.
No evento, a Biblioteca Municipal Viriato Corrêa fez a entrega da nova Biblioteca Móvel Embarque nas letras, veículo que foi reformado, tornando-se um ônibus todo equipado para circular pelos bairros, levando livros para as comunidades.
9º. Fliaraxá em números
A 9.ª edição do Fliaraxá, realizada entre os dias 28 de outubro e 1 de novembro de 2020, apresentou números extraordinários na versão virtual/digital/híbrida, 24 horas no ar, por 5 dias, totalizando 101 horas de transmissão contínua. Remotamente, estiveram presentes cerca de 100 convidados, autores e autoras, em 11 diferentes fusos horários nos seguintes países: Portugal, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Estados Unidos e Espanha. O público foi contabilizado pelo número de alcance nas redes, registrando mais de 7 milhões de visualizações do conteúdo exibido no Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, canais oficiais de divulgação e de exibição do festival. No site do evento, 22.556 usuários foram alcançados, num total de 58.178 visualizações do conteúdo disponível. Para não perder o sentido de geolocalização, a transmissão foi toda feita direto do Grande Hotel de Araxá, quando atuou, de forma presencial, uma equipe de trabalho de 25 pessoas – todas testadas para Covid-19 e seguindo os protocolos recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Após 10 dias, nenhum caso de coronavírus foi registrado. 129 pessoas trabalharam direta ou indiretamente o pré, o durante e pós-evento.
Conheça as redações dos contemplados no Prêmio de Redação Maria Amália Dumont
Categoria: 9 a 11 anos
Nome: Felipe Santos Salazar Faria
Idade: 10 Série: 5° Ano Escola: Colégio São Domingos
Título: As Línguas Portuguesas pelo mundo e minhas descobertas
Não podemos falar de Língua Portuguesa pelo mundo, sem lembrarmos um pouquinho de onde veio e como ela começou.
Desde o 4° ano quando estudamos um capítulo sobre regionalismo aprendemos e descobrimos a origem da nossa Língua Portuguesa, há dois mil anos no Norte de Portugal. Foi quando fiquei sabendo que marinheiros portugueses levaram o seu idioma para lugares distantes e não só para o Brasil. Achei isso o máximo, mas nunca tinha pesquisado sobre o assunto, até conhecer o tema da redação do FLIARAXÁ 2.020.
Gosto muito de ler, sou curioso e pesquisador. Em minhas leituras, pesquisas e nas aulas de Português fiquei sabendo coisas incríveis sobre a Língua Portuguesa e como foi adotada por outros países. O que mais me chamou atenção foi o termo: “mundo lusófono”, até porque perto da casa da minha avó tem um local com uma placa: “Centro de Lusofonia”. Comecei a fazer minhas ligações e pesquisas. Descobri que Lusófono é um adjetivo que classifica os países que tem o Português como língua oficial; nove países, ou seja, muita gente fala a Língua Portuguesa pelo mundo afora. Isso é demais!
Fico imaginando como será o português por aí, pelos vários países, como ocorrem as diferenças nas pronúncias, no vocabulário, na escrita? A minha professora de Português falou que há um tempo atrás foi criado um acordo ortográfico para que a escrita ficasse igual em todos os países “Lusófonos”. Mas acho que mesmo com esse acordo, cada lugar continua com seu jeito, com sua variação linguística, que influencia na forma de falar de seus habitantes e, estas diferentes formas é que deixam a Língua Portuguesa mais bonita, interessante e curiosa. E quando falo da beleza da nossa língua, lembro o que aprendi sobre ela aqui no meu Brasil: a língua formal, informal, culta, coloquial, a influência das línguas indígenas no Português, os dialetos de cada região, a cultura e a história de cada povo e, percebi a sua importância para nós e para o mundo. Ah sim, entendi o tema que era confuso para mim: “as Línguas Portuguesas pelo mundo”, que vai além do que eu podia imaginar, saber ou sonhar.
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Categoria: 12 a 14 anos
Nome: Cecília de Oliveira Borges
Idade: 13 Série: 7° Ano Escola: Colégio Dom Bosco
Título: As reinvenções da língua portuguesa
Falar das múltiplas formas de coexistência da língua portuguesa pelo mundo é flexioná-la num aspecto plural. Em cada palavra há uma identidade subjetiva do país em que está, a uma sonoridade que vai além do sotaque e se traduz num possível sentido novo. Os países lusófonos têm uma linguística, uma gramática normativa, mas também infinitas formas de viver e sentir, por isso a riqueza das variedades linguísticas e dialetos.
Engana-se quem acha que a língua se impõe ao sujeito. Ao contrário, ela serve a ele, molda-se no cotidiano do seu uso e transforma-se, assim perde seu caráter rígido e coercitivo frente à necessidade de comunicação. Nessa metamorfose, engrandece e diversifica para continuar a existir, torna-se viva e dinâmica.
Como consequência, este fluxo une países de continentes diferentes sob o mesmo idioma que de colonizador passou a ser colonizado, ganhando uma estrutura bem maior do que aquela da nação de origem.
Portanto, conforme diz o poeta José Saramago, “não há uma língua portuguesa, há línguas em português”, pois, com certeza há poucos idiomas tão abertos a adaptações. A variação no uso da língua portuguesa é sinônimo de “pedigree” e nobreza, pois o que temos de melhor não são as palavras, mas a criatividade e diversidade dos usuários separados por continentes, porém unidos pela capacidade de se reinventar.
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Categoria: 15 a 18 anos
Nome: Lourenço Nogueira Silva
Idade: 15 Série: 9° Ano Escola: Colégio Atena
Título: O último broto do Lácio
Língua portuguesa, como dizia Olavo Bilac, a “última flor do Lácio, inculta e bela”. O que não previa Olavo, um dos maiores manejadores da Língua Portuguesa do Brasil, é que não era a última, e não era flor, mas sim um broto. A Língua Portuguesa já não é mais a mesma de sua origem, aquele dialeto não existe mais, ele se dividiu em outros idiomas, mais belos e incultos. O último broto do Lácio passou pelo processo evolutivo ensinado por Charles Darwin, ele se separou, se adaptou e por fim se transformou em diferentes espécies, parecidas entre si, mas jamais as mesmas. E é essa tamanha diversidade que a torna mais bela.
A variação linguística ocorre pela influência de outros idiomas nativos e estrangeiros. O português brasileiro, por exemplo, se diferiu de europeu pela influência do Tupi-Guarani, e mais tarde pela chegada de estrangeiros árabes e italianos. A diversidade é tanta que “geleira”, em Angola, significa geladeira, enquanto no Brasil é uma extensa massa de gelo, machomba, uma planta que sequer existe em outros portugueses, quer dizer campos agrícolas em Moçambique. Banheiro, em Portugal é um salva-vidas, enquanto para os brasileiros, “salva-vidas” é uma profissão.
A beleza das Línguas Portuguesas não reside apenas na variação linguística como também em sua peculiaridade. Qual palavra seria capaz de definir a falta: a falta de casa, de um amor, de um parente que ficou para trás? Uma palavra tão única e humana que só tem sua existência nas Línguas Portuguesas: saudade. Tais línguas que também vão além do que é descrito e explicado no dicionário, e é capaz de criar novas formas de linguagem, com gírias, sotaques e neologismos, assim como os de Guimarães Rosa, que criou uma palavra para descrever o som das árvores: “aeiouar”.
A diversidade das Línguas Portuguesas é o principal fator de sua beleza e riqueza. Para Darwin, “uma mesma língua jamais tem dois lugares de origem”, e assim ocorre com as línguas portuguesas. Elas estão presentes em nove países pelo mundo, a origem em comum as tornam irmãs, mas suas principais histórias, modificações e influências as tornam únicas. O que remete a frase de José Saramago, “não existem Línguas Portuguesas, mas sim línguas em português”.
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